“Pega no telefone e
liga-lhe, não tens nada a perder. Diz-lhe que tens saudades dele, que ninguém
te faz tão feliz, que os teus dias são secos, frios e áridos, como um deserto
imenso, sem oásis nem miragens, sempre que não estão juntos. Pega no telefone e
liga-lhe. Se ele não atender, deixa-lhe uma mensagem. Ou então escreve-lhe uma
mensagem a dizer que queres estar com ele. Não te alongues nem elabores, os
homens nunca percebem o que queres deixar cair nas entrelinhas. Tens de ser
clara, directa, incisiva. E não podes ter medo, porque o medo é o maior inimigo
do amor. Cada vez que deixares o medo entrar-te nas tuas veias, ele vai
gelar-te o sangue e paralisar-te os nervos, ficas transformada numa estátua de
sal e morres por dentro. (...) Nunca se sabe como será o
dia de amanhã, por isso não percas tempo: pega no telefone e liga-lhe. Tenho a
certeza que ele te vai ouvir, tenho a certeza que ele te vai ajudar, tenho a
certeza que ele, à sua maneira - e é tão estranha a forma como os homens gostam
de nós - ainda gosta de ti. Mesmo que já não te ame, ainda gosta de ti, como tu
vais aprender a gostar dele, quando a vida te obrigar a desistir deste amor.
Ele está longe, mas olha por ti por entre memórias, presentes e flores. À
noite, entre sonhos alterados pelo álcool, tu apareces-lhe na cama e ele volta
a sentir o cheiro da tua pele e volta a amar-te com todas as suas forças. Ainda
que não acredites, tu viverás para sempre nele, tal como ele vive em ti, na
memória das tuas células, num passado
que pode ser o teu escudo, mesmo que não seja o teu futuro.
Pega no telefone e liga-lhe. Fala com ele de coração aberto, diz-lhe que o
queres ver, chora se for preciso, pede-lhe que te diga se sim ou se não. Se for
preciso, por mais que te custe, pede-lhe para te escrever a palavra NÃO.
Pede-lhe uma resposta para o teu coração. Mais vale saberes que acabou tudo do
que viveres com as laranjas todas no ar, qual malabarista exausto, sem saberes
nem como nem quando elas vão cair. Mais vale chorar a tristeza de um amor
perdido do que sonhar com um oásis que se transformou numa miragem.
Pega no telefone e liga-lhe. Liga as vezes que forem precisas até conseguires
uma resposta, a paz de uma certeza, mesmo que essa certeza não seja a que
desejavas ouvir. Mas não fiques quieta, à espera que a vida te traga respostas.
A vida é tua, tens de ser tu a vivê-la, não podes deixar que ela passe por ti,
tu é que passas por ela. E quando todas as laranjas caírem, apanha-as com
cuidado, guarda-as num cesto e muda de profissão. O circo é para quem não tem
casa nem país, não é vida para ninguém. Guarda as laranjas num cesto, leva-as
para casa e faz um bolo de saudades para esquecer a mágoa. E nunca deixes de
sonhar que, um dia, tal como eu, vais encontrar alguém mais próximo e mais
generoso, que te ensine a ser feliz, mesmo com todas as pedras que encontrarem
no caminho.
Larga as laranjas e muda de vida. A vida vai mudar contigo.”
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